Crítica: O filme “Pobres Criaturas” merecia realmente todos os prêmios?
Essa provavelmente vai ser a matéria mais longa e mais difícil que eu escrevo nesse site, mas vamos começar pela parte mais fácil de falar sobre. O filme “Pobres Criaturas” chegou nos cinemas do Brasil no dia 1º de fevereiro, mas sua real data de lançamento foi dia 8 de dezembro de 2023. Esse fato deu margem para o filme competir nas premiações desse ano como Golden Globes, Critics Choice Awards, Oscar e outros. O filme chegou como uma bola de demolição e levou todas as estatuetas que conseguia e mais um pouco.
A melhor coisa sobre esse filme, na minha opinião, foi a atuação da Emma Stone. Ela performa milagres no papel de Bella Baxter, uma mulher trazida de volta a vida por um anatomista considerado por muitos como maluco. O doutor Godwin Baxter é interpretado pelo Willem Dafoe com uma maquiagem de tirar o chapéu, já ele ficou parecendo um monstro na tela. A referência a Frankenstein é muito clara, mas diferente do monstro que conhecemos muito bem, a Bella possui um corpo perfeito. Ela foi resgatada do rio Tâmisa, logo depois de se jogar da “Tower Bridge” em Londres, deixando seu corpo intacto. A principal diferença está em seu cérebro. Quando Bella faleceu, ela estava grávida e em nome da ciência, o doutor Godwin decidiu retirar o cérebro de seu feto e colocar em seu corpo. Era como se uma pessoa tivesse nascido no corpo de uma mulher adulta, a biologia de uma mulher adulta, mas o cérebro de um bebê ainda não moldado pela sociedade.
A fotografia desse filme está impecável e é nítida a inspiração no surrealismo italiano e em algumas partes até o alemão. A colorimetria usada no filme é linda e o que a edição fez com os céus durante todo o longa é de se impressionar. Os cenários são lindos e de uma criatividade absurda assim como o figurino que foram feitos para retratar a época vitoriana europeia. A história original é de um livro cult escocês de Alasdair Gray foi transformada em um filme cômico de fantasia, por um roteiro duvidoso que é onde nossos problemas começam.
O filme começa a ganhar forma quando a Bella, por conta de uma maçã, descobre o mundo dos prazeres sexuais. Graças a isso, o seu desejo por descobrir mais sobre o mundo é aflorado e ela decide que vai explorar tudo que ele tem a oferecer. Como a Bella chama muita atenção para si mesma, o doutor e seu assistente Max, que eventualmente se apaixona por Bella, a mantém em cativeiro na sua mansão. Provavelmente, graças ao diretor Yorgos Lanthimos, o filme é tão esteticamente bonito que as pessoas mal percebem que o roteiro é desinteressante e não segura o espectador por mais de 30 minutos. O mundo fantasioso mesmo que dentro da mansão é tão bem feito dentro das lentes olho de peixe e seus animais misturados que esquecemos da história.
Eventualmente, a Bella, que está prometida em casamento para o Max, decide que quer sair pelo mundo na companhia de um advogado rico e cafajeste, interpretado pelo grande Mark Ruffalo. O que esse personagem tem de tão especial? Além de prometer a levar para Lisboa, eles tem uma quantidade tão grande de relações sexuais que eventualmente chega a ser desconfortável para quem está assistindo. Fora isso, o que conseguimos ver de Lisboa foi uma retratação retro-futurista e o fato de que a personagem se apaixonou pelos pastéis de nata.
Logo em seguida, a personagem embarca em um cruzeiro onde faz amigos que a levam para Alenxandria onde descobre que parte do mundo vive em miséria extrema. Após perder todo o seu, ela se vê obrigada a trabalhar para viver quando chega em Paris. Nesse momento se perde todo o resquício que tinha sobrado de respeito e passamos por uma longa jornada de mais cenas de relações sexuais, chantagem emocional, machismo e controle de pessoas.
Se eu acho que o filme merecia todos os prêmios que ganhou? A resposta é com toda certeza não. Eu saí da sala de cinema me questionando o motivo dele ter levado tudo em todas as premiações e um menino virou para mim e me disse que aquilo era arte. O que faz algo ser arte? Para mim o filme “Pobres Criaturas” não passa de um longa-metragem desconfortável de assistir com muito mais cenas obscenas do que deveria, que será esquecido dentro de três meses. Diferentemente de filmes como Barbie que ficará gravado na história por abordar problemas gigantescos na nossa sociedade que são tão ignorados que somente o homem do filme foi indicado ao Oscar. Sem contar da sexualização infantil que esse filme faz que me deixou de queixo caído.
Uma bela homenagem a história do cinema e tudo que ele teve a oferecer, mas simplesmente isso. Uma imagem bonita com quase nenhum conteúdo.
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