Crítica: La Joia, álbum de estreia de Bad Gyal, funciona mais como uma apresentação de seus convidados.

quarta-feira, 20 de março de 2024
por Matheus José

La Joia é o álbum de estreia da cantora espanhola Bad Gyal. E, apesar de colecionar algumas músicas virais como “Nueva York (Tot*)” e “Pai”, uma versão catalã de “Work” da Rihanna, a artista finalmente reúne material suficiente para tornar efetivos seus pontos fortes.

Bad Gyal em imagem promocional. Imagem: Divulgação.

Porém, é necessário um esforço maior para reconhecer tudo o que é proposto por ela. Já que La Joia adota o dancehall jamaicano e o reggaeton porto-riquenho como principais bases estéticas do som, tão longe de tudo o que hoje vem da Espanha.

Não é como Rosalía misturando diferentes linguagens musicais para criar algo novo e híbrido; Bad Gyal prefere apenas replicar suas referências sem muita profundidade. E é por isso que La Joia subverte e mina qualquer intenção concreta de avançar num campo de ideias próprias.

“Mi Lova”, em parceria com Myke Towers, por exemplo, parece partir de um ideal que abrange terrenos já bem explorados pelo rapper porto-riquenho. Bad Gyal, diante disso, acaba ficando sem muitas opções, ou seja, é condicionada a acompanhar seus convidados que vêm de diversos cantos da América Latina.

Quando ela tenta, ou melhor, se arrisca em algo próprio, o resultado mais uma vez evidencia erros e acertos. Como é o caso de “Give Me” e “Perdió Este Culo”, momentos interessantes mas que, como todo o resto, carecem de profundidade de sentido no contexto da recriação de algo já bastante testado por outros artistas.

Mas nem tudo está perdido: La Joia também tem grandes acertos. “Bota Niña”, com participação de Anitta, tem resquícios de brega funk e melodia alternada em tons diferentes, com ritmo acentuado no refrão. É interessante, pois demonstra que Bad Gyal sabe escolher suas parcerias, e como Anitta tem — apesar de uma música ou outra — buscado evoluir no reggaeton.

“Chulo pt.2”, outra excelente parceria, desta vez com Tokischa e Young Miko, é um blockbuster nostálgico que se divide em diferentes frentes. Embora o foco seja o mesmo: a repetição de rimas com Chulo. É o ponto alto da obra. Na esteira de colaborações, “Bad Boy”, com Ñengo Flow, também apresenta saldo positivo.

A música, com o ritmo ditado por uma base de piano que condensa as batidas dos versos de rap do convidado deixa perguntas do tipo “e se La Joia seguisse um caminho como esse, o resultado teria sido melhor?” — não há dúvida de que sim.


Nota: 6/10

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