Crítica: Em COWBOY CARTER, Beyoncé doma a zebra do country e deixa uma mensagem simples: não há nada que escape ao seu dinamismo na música pop.
Pensar em Beyoncé é pensar nas infinitas possibilidades da música pop. No que diz respeito ao gênero, à medida que se criam expectativas, à medida que vive o simbolismo da música, é aí que reside Beyoncé com a sua capacidade única de domínio.
Era de se esperar que em sua atual fase de renascimento ela surpreendesse ao seguir um caminho que sempre esteve em suas veias como artista pop americana, precisamente sendo uma texana. COWBOY CARTER, como ela mesma diz, não é um álbum de música country.
E essa é exatamente a diversão de tudo. O tradicionalismo do gênero, embora muitas vezes perturbado por recentes figuras mais pop como The Chicks e Kacey Musgraves, jamais permitiria que seu estandarte fosse guiado por uma cantora negra. E Beyoncé, por sua vez, não se importa e tampouco precisa dele. “TEXAS HOLD ‘EM”, por exemplo, fez história como uma música country que atingiu números atualmente inimagináveis. A mensagem que a artista poderia dar foi dada.
Por isso o álbum é mais sobre a diversão dela ao abusar do banjo, das cordas, dos vocais cafonas e das baladas que se misturam com o recente e contemporâneo, inclusive com a inserção do funk brasileiro em “SPAGHETTII”, do que com a persuasão de fazer do country algo mais palatável ao seu público que anseia por novas interpretações. Aqui, a divisão de sons e perspectivas adotadas a partir de um cálculo milimétrico do que o estilo é ou deveria ser para Beyoncé é muito clara.
É nesses momentos que seu jeito de fazer música pop encontra dinamismo entre melodias que realmente remetem a algo tradicional. Como na música à nação na abertura “AMERIICAN REQUIEM” e no refrão coroso de “DAUGHTER”. Por outro lado, a diversão também toma as rédeas; sua versão de “Jolene”, de Dolly Parton, e “Balckbird”, dos Beatles, reproduzem o impacto social da música com raízes negras na sua forma de enfrentar e fazer justiça.
COWBOY CARTER, mais do que um álbum que, assim como RENAISSANCE, traça uma reimaginação de gêneros que fizeram parte da formação de Beyoncé e da própria música, é um registro fascinante de como domar o pop como objeto único de sua criação. Ninguém, absolutamente ninguém poderia fazer isso melhor do que Beyoncé.