Crítica: Em Deeper Well, Kacey Musgraves se afasta ainda mais da sua primazia country.
Afastar-se do country e mergulhar em outro caminho com raízes de gêneros tradicionais, como o folk, é mais do que um exercício criativo. Kacey Musgraves, aliás, não quer o country perto dela — pelo menos é essa a impressão que Deeper Well nos dá ao longo de sua formulação densa e repetitiva.
Depois de se separar do ex-marido, o também cantor country Ruston Kelly, Kacey tem buscado maneiras de fazer do gênero um capítulo quase superado em sua recente ascensão ao estrelato global, resultante de sua vitória como Álbum do Ano no Grammy de 2019, com o disco Golden Hour.
Mas desde então muita coisa mudou. Ela terminou o casamento, optou por algo mais acessível — aí vem o igualmente mediano star-crossed, de 2021 — e agora parece adotar uma nova perspectiva musical. Longe dos banjos, a artista mergulha em acordes de violão e emulações psicodélicas que realmente combinam com sua voz, seu instrumento principal.
Mas isto obviamente não é suficiente. Deeper Well é quase interminável, não pela duração, mas pela repetição enfadonha com que os gracejos country de Kacey se fundem com melodias homogêneas e vocalizações que não requerem variação. Todos esses elementos poderiam até funcionar como um recurso estético interessante, mas nada consegue se destacar diante das baixas que o álbum sofre.
Momentos como “Too Good to be True” e “Sway” até tentam recuperar os traços do country pop criados por ela em Golden Hour, mas estão longe de obter a mesma primazia. Por outro lado, é injusto comparar álbuns lançados em épocas diferentes e com ideias diferentes, mas esse meio-termo de buscar o novo e ficar na zona segura do que já foi explorado é um pouco estranho.